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um amor atrevido

um amor atrevido

Maio 01, 2006

sabrina

Vieira do Mar

Trago-te em bolandas, arrasto-te comigo para o trabalho, despejas-me o meio pacote de açúcar na bica, sopras-me a juliana a escaldar que sorvo em pé, ao almoço, na pastelaria da esquina, acendes-me os cigarros que me fatiam a rotina em doses finas, suportáveis; adivinhas-me o pendor fútil e arrebanhas da banca exposta uma leitura de cordel, e lá vamos os dois, por entre risadas gémeas, a ler das traições dos outros; atrelo-te ao meu passo de corrida, como um rafeiro que se amarra à carroça dos ciganos e se arrasta, esbaforido, pelo macadame fora. Entras comigo no banho e encaixas-te em silêncio no centro exacto das minhas virilhas mornas, enquanto a água me escalda as veias e eu adormeço de ignorância e cansaço, com a rosa dos mundos caída ao lado, um sonho com poesia dentro onde nem te vislumbro os contornos, pois já me invadiste que chegasse o dia, com o fac-símile da tua sombra prestável.