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um amor atrevido

um amor atrevido

Abril 28, 2006

lolita

Vieira do Mar

Não sei como se mede a saudade. Ao quilo? à grosa? ao decalitro? Quantas jardas? milhas de distância? Quantos centímetros cúbicos de suspiros disparados no espaço sideral serão precisos, para que a chamemos pelo nome? Poderemos arredondar aqueles minutos de alheamento em que os olhos nem se nos pestanejam para - o quê?- uns dias bem medidos, no seu todo? alguns meses? Em alturas de tempestade, aponto-me para ti como uma bússola e, sem mesmo o saberes, conduzes-me o desnorte a bom porto, com a gentileza de quem pegasse um cego pelo cotovelo e o ajudasse a atravessar a rua. Como me tenho em conta baixa, não me suponho dotada de excessos magnéticos que te atraiam de forma igual, não obstante, algo me espicaça e confunde: o porquê de continuar a ser a primeira das tuas manhãs e a última das tuas noites. Será um meio de me manteres à distância, no espaço que medeia entre (e que é todo o resto do teu dia), como empurrões no peito? Ou apenas a forma de contabilizares uma saudade que afinal também é tua, prendendo-a a ferros entre esses dois momentos precisos, tão definidos no espaço e no tempo? Como se a conduzisses para um redil, fechado a rotinas em vez de cercas, na tentativa de a domares. Gosto de brincar com a ideia de que assim seja: visto-a, dispo-a, embelezo-a, pinto-a e torço-a, como uma miúda pequena, ao mesmo tempo zangada e divertida por coisas lá dela, com uma barbie à mercê dos dedos.