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A falta de ti maça-me, desconforta-me, aparece-me inesperada a meio da refeição, quando me sorris da aletria na canja com que formo o teu nome, às vezes o teu apelido, empurrando as massas com a colher para o rebordo do meu prato; cutuca-me o ombro, reclamando-me a atenção dispersa, como uma vizinha intrometida que teimasse em me contar os podres da viúva do andar de baixo; salta-me ao caminho dos meus rituais diários, desavergonhada, exibindo e esfregando-me na cara os quilómetros que nos distam, num relance obsceno de gabardina aberta por um louco. Cansa-me, a falta de ti, lembra-me aulas de geografia em módulos de noventa minutos, uma melga a zunir no escuro, uma espécie de comichão bem lá no fundo das costas, onde as minhas mãos não chegam. É assim como uma amante despeitada que invadisse o remanso caseiro da legítima, ligando-lhe com insistência sem nunca pronunciar palavra. Entedia-me a tal ponto, a ideia de que nunca estiveste, que anseio por saber o que haverá para além dela, como se pouco mais tivesses sido do que um longo e interminável intervalo para publicidade.
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