Março 20, 2006
a streetcar named desire
Vieira do Mar
E, de repente, o teu cheiro que me chega. Perscruto as palmas das mãos, que acabei de lavar numa casa-de-banho pública, será do sabonete?, não é. Farejo as mangas do casaco, as abas, a gola, tê-lo-ei usado da última vez que estivemos juntos?, não, não usei. Rodopio-me na direcção das costas dos outros que se afastam, indiferentes à minha comoção, alguém que usa o teu perfume?, não, persistes por aqui, rodeias-me as raízes dos cabelos, os pêlos. Por momentos, até o sinal passar a verde, aquele velho cuspir no chão e a mulher de azul tropeçar no salto, passeias-te comigo - um boxeur fantasma que, a investidas de plasma, me esmurra o coração até se desvanecer nos odores do monóxido e da fast food, nos olhares ausentes que me trespassam o umbigo.