Abril 30, 2006
punch drunk love
Vieira do Mar
A primeira vez, que na verdade é a milésima, a cabeça feita em água, feita colchão de água, redondo de motel rasca, a estourar de tanta sinapse acrobática. Depois, um dia por fim, o corpo que treme e se dobra ao desejo acumulado: um caniçal, vergado à ventania oceânica que sopra de mil direcções, incapaz de se fixar num ponto cardeal que seja da nossa pele enxameada. A incontinência suada dos gestos, por momentos sustidos nas expectativas, presas por um fio e desfeitas agora na poeira do medo. Os dedos nervosos, que falham colchetes, mamilos, fechos, ganchos de cabelo, clítoris, nós de gravata, escroto, botões, pontos a a g, onde estão?, onde estás?, e a ideia insustentável de um segundo perdido, um segundo a menos em que não te amarfanho a pele súbita e nua. Arranca-me a blusa e rasga-me a merda do soutien que eu já me adiantei, ganho-te aos pontos, lambo-te sôfrega e sabes-me a sal. És profilático e propedêutico, que sou hipotensa e hoje falhou-me o rito da bica curta, a do meio da manhã, na pressa de aqui chegar, na urgência de te escalar. Quase desmaio, preciso de sal, preciso de ti. Amanhã, amanhã há mais.