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um amor atrevido

um amor atrevido

Agosto 08, 2007

four weddings and a funeral

Vieira do Mar

Achas boa ideia, encontrarmo-nos? O que te faz pensar que, quando te vir, não te sitiarei a boca como a invencível armada, nem te rodearei por todos os lados, carregando sobre ti em formação tartaruga? Serás tão ingénuo ao ponto de creres que o passar do tempo me distraiu para sempre da assimetria da tua cara risonha e da desconjunção do teu corpo, mal arrumado nesse conjunto de fato e gravata? Não caias no erro de pensar que, com toda a certeza, o reencontro será fraterno e levemente saudoso, como uma consoada de parentes distantes, e que eu não te tomarei de assalto, ávida, guerreira, amazona pentesileia, fazendo-te meu prisioneiro para que me faças filhos e me caces o jantar, numa subjugação resignada. Não te fies, que muitos dias se atropelaram e correram, e eu trago em mim reentrâncias vazias como grutas de piratas, secos orifícios e ocos recantos que se me revelam no escuro, à boca da noite, quando me dispo de todas as cautelas. Pois sim que, entretanto, cuidámos dos nossos e abrigámo-nos da dor como da chuva ácida, mas é só eu querer e quando, à minha frente, inspirares fundo o ar que eu expiro (com aquela solenidade obscena de quem pondera o fim da vida na trave de uma ponte vazia), de pouco ou nada te valerá, bateres o olhar em retirada.