Novembro 20, 2011
the graduate
Vieira do Mar
A primeira vez. Na areia fria da praia, à sombra de um barco de pescadores que dormia de borco sob o luar quente de Julho, um encosto velho e cansado com a tinta a descascar na quilha e um cheiro agudo a peixe seco que, no lirismo infantil do momento, confundimos com maresia. A humidade da sílica a abrasar-me as costas que, ora se arqueavam, ora se distendiam, como cordas de uma guitarra onde tocavas a tua música, feita de dós sustenidos por sobre o meu arfar sincopado. A mesma paixão histriónica vivida a ritmos diferentes, os nossos dois corpos a capella: tu, a começares e a acabares primeiro e eu, sozinha, empenhando-me nos vocalizos finais. Cedo nos afinaríamos as vozes da pele numa consonância perfeita, mas foi aí que comecei a perceber que o Amor é, por vezes, vivido em canon: ora um se adianta, ora o outro se atrasa, e que, como a música de câmara com os seus disparismos sonoros, também ele pode viver e alimentar-se daquela estranha sincronia que nasce dos desencontros que se sucedem.