Setembro 17, 2012
the end of the affair
Vieira do Mar
Não ligues para falar do tempo ou me actualizares sobre o teu estado, como o sítio onde te encontras ou de como estás atrasado. Não me digas que hoje não podes, que sais tarde a correr para casa, picar o ponto, ver o jogo, comer sopa e dormir. Desiste de encaixar os teus escassos minutos nos meus assoberbados dias, o rossio na rua da betesga, um camelo pelo buraco de uma agulha. Baixa os braços e rende-te. Sem chuviscos de promessas miudinhas, molha-tolos e passageiras. Não me ponhas a seguir a minha cauda, babando em círculos, mordiscando o ar, arfando frustrada; nem eu de gato-sapato, a boba da corte, o bombo da festa, cortesã, cortejada. Não me tomes por loura parva, aberta disponível, nem de pernas nem de conversa. Porque seria preciso mais, muito mais, do que os teus segundos contados, moleculares, quase só a expressão de um átomo, para tomar-te em definitivo o gosto, fazer-te vício, remédio santo, necessidade básica. E para então o cio, a autoridade competente na matéria, me dar ordens legítimas de cumprimento imediato.