Agosto 20, 2006
basic instinct
Vieira do Mar
Gosto da imoralidade inquieta com que investes entre as minhas pernas e depois emerges dos teus trabalhos de língua como uma enguia cansada, para logo a seguir me prenderes com os pés as bochechas, tendo eu de te engolir inteiro antes que da minha cara faças banco desdobrável. Não te reges por quaisquer princípios quando me abres na tua trave como ginasta olímpica e rodas sobre mim, fazendo-me eixo fixo do teu gozo obsceno e arrogando-te a leveza de um ponteiro dos segundos. Não me deixas, sequer, espaço dentro da boca para poder passar o riso que sempre me invade quando nos vejo assim trocados, invertendo todos os códigos da importância dos carinhos: eu, a amar perdidamente um dedo do teu pé e tu, a namorares o meu tornozelo magro, que chupas como a última ostra. Mas do que eu mais gosto é quando um de nós se vira por fim no escuro, ambos ainda confusos, em busca de pontos de referência, do hálito cansado do outro. E do prazer de te esperar, cá em baixo, no fim da viagem, depois das curvas, das derrapagens, dos cruzamentos às cegas e inversões de marcha. O sexo é a melhor metáfora de nós: o sítio onde exageramos a vida e a esquecemos, enterrando a cabeça um no outro como avestruzes cobardes.