Dezembro 11, 2010
frida
Vieira do Mar
Falas-me de amor platónico mas perguntas-me a que horas abrem as minhas pernas. E eu respondo-te que sou como aquele barbeiro de província que tinha um papel sebento no vidro a dizer que abria a horas indeterminadas. Ah! e ser feliz: pois, também me falas disso. Cada umas das criaturas nesta esplanada envelhece ao segundo, mais um vestígio de rugas, uma vontade de desistir. O tempo passa por todos menos por nós mas é preciso que nos fitemos para além do que aparentamos, furar a pele. Entretanto olhamos a alforreca que dispersa as tainhas, translúcida como os teus olhos, e achamos que ainda ontem estávamos por aqui, iguais, as minhas pernas platónicas, o teu andar gingão. O nosso passado está presente em nós porque é o nosso presente: temos direito a pouco mais, há muito que o comboio saiu da estação, embora na verdade às vezes ainda me pergunte se já chegou ao destino. Sei lá quanto de ti não se imagina a tentacular-me enquanto molho o pão no molho. Quanto de ti é resistir a não fazer ou não fazer por não quereres fazer, apenas. Decifro-te em mim e o que dizes é como meu, deve ser das encruzilhadas da idade: ambos sem rumo, somos aquela alforreca que foi parar ao lodo e que agora não sabe como sair do cais, presa no meio das tainhas, que são muitas e vorazes. Além disso ainda não decidi se isso do platónico é um elogio ou uma ofensa. Mas contradiz sem dúvida o interesse demonstrado no meu horário de abertura.