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Contigo, tenho dias. Dias, em que a habitual indiferença quanto às andanças do teu destino dá lugar a uma precisão urgente, como uma sede de náufrago ou um desejo de grávida. Tenho dias, contigo. Em que és o Sexo e a Palavra, o sítio onde trabalho, a casa onde vivo, o ar que respiro. Em que és o ronronar abafado da máquina do café, o correr da chuva no algeroz do prédio, a humidade esconsa da minha rua, reflectida no macadame. Pequenas coisas te despoletam, pode ser o cheiro de outro homem, a declinação de um som ou o teu nome abreviado nos contactos do telemóvel. Pequenas coisas, mas nem por isso aprendi ainda a identificar os sinais: quando me chegas, já vou tarde. E então fico quieta, à espera, enquanto passas por mim, ocioso, como um domingo, um passeio dos tristes, uma ida às queijadas ou ao hipermercado. Contigo, tenho dias.
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