Setembro 05, 2007
a place in the sun
Vieira do Mar
Louvámos a praia até ao poente, nesse dia. O sol, passageiro clandestino, encarniçava-nos a gazeta, usurpada ao trabalho. Arranhavas-me por razões várias as pernas molhadas, fazendo com que os dedos dos meus pés se esticassem de prazer como os de uma bailarina em pontas e fossem deixando sulcos de limpa-areias ao fim do dia, na areia molhada, consoante te ias submergindo mais e mais em mim, um mapa batrimétrico entre as tuas pernas, e eu, cá dentro, uma rede de recifes de coral e grutas de uma anatomia simples, a encherem-se das tuas marés, a corroerem-se um século a cada nova enxurrada, eu, na vertical, a envelhecer debaixo de ti, um ser em camadas geológicas, corroídas pela paixão. As nossas sombras, mais estreitas a cada guinada do sol na direcção do nada, repetiam cada beijo enrolado em areia, cuspido no meu umbigo, a barriga, os braços, as virilhas, a tremerem de inveja das tuas explorações subterrâneas, tão meticulosas quanto trapalhonas. Foste tão pouco meu como o sol, na sua última curvatura roxa antes de desaparecer na linha do horizonte, uma linha que parecia desenhada por um miúdo a régua e esquadro lá longe, só para que soubéssemos que há coisas inultrapassáveis, como a pressão do oceano, as paredes de corais e os dias seguintes.